domingo, 9 de março de 2014

Nem toda boca calada é muda

O que te dei de mais duradouro e sincero foi meu silêncio.
E um olhar quase sempre escandalizado que escorria pelo teu corpo.
Te dei um livro, sem dedicatória, te dei estórias para não dormir.
Te dei um Sim e infinitos Nãos, mas mais sincero foi o Sim, Sim que a mais ninguém eu dei.

Te dei um sorriso sem esforço e a companhia de um pranto.
Te dei meus braços para embalar-te, te dei todo meu canto.
E te dei mais, te dei seis anos, ou vinte e três, ou quantos mais bata meu coração.
Te dei amor, mas não o vão, humano, errante, lógico e visceral. Te dei um amor animal, um amor como o dos cães, como o dos pinguins, como o dos beija-flores, como o das plantas viçosas que crescem enleadas... Te dei uma estrada, mas não te dei o destino.
Deixe calar-me, pois mais sincero e duradouro e honesto é meu silêncio.

Este a cada dia o tens, guarda-o bem em teus ouvidos.