sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Oh Fortuna

- Já não posso dizer-te do futuro
Me alertaras, naquela noite vadia
- Não importa, meu coração é burro...
E enquanto suspirando você ria
Completei-lhe com um sussurro
...E não te deixarei sequer um dia.

Com a linha do destino não faço meu bordado
A verdade de agora é tão distante, sem abrigo
O teu retorno aguardo em cadafalso desolado
Sem nada dizeres, foges e toda paz leva contigo

E o que dirão aqueles em tão profundo vão?
Nem céu ou inferno, nem verdade ou caminho
Os resta vida detestável, ignotos e sozinhos
Senhora de minha sorte, leva enfim minha razão

Absurdo seria dizer-me são
E negar o que naquela noite eu via
Tuas formas dando forma à escuridão
E teu olhar me servindo moradia


domingo, 25 de setembro de 2011

Última carta ao Amor Lastimado


Te amo.
Foi um erro eu ter deixado
tanto a vida passar.
Ainda sou jovem
mas, já tão velho,
não posso deixar
a amargura me tomar.
Essa distancia, essa saudade,
essa lembrança a me matar.
Quero rever-te, tão logo,
agora, sem demora, agora, já.
Sou tão jovem,
jovem como o vento,
e já vem o tempo
a me desgastar.
Mas o que sinto
é que não tenho tempo,
logo logo, vou me enferrujar.
Não parto desta,
não vou pra outra,
o que digo eu cumpro
você verá...
Mas o que sinto
é que não tenho tempo,
e tao breve vou me esfacelar.
E essa dor no peito?
E essa dor cingindo?
E essa dor tinindo?
Alguém pode explicar?
"Quem inventou o amor?"
 se perguntou o poeta,
 mas essa dor, na certa,
 inda há de me matar.
O que quero, de meus amores,
é nos seus olhos poder olhar,
E talvez, pelos seus olhos,
eu possa me enxergar.
E enxergando a mim mesmo,
afastaria o desprezo
que sinto ao me enxergar.
E essa dor que vai latente,
por final me deixaria,
e eu, ainda descrente, (pudera!)
ainda, mais ainda viveria.
Pois, amor sem esperança,
é como morrer uma criança,
que desperdício seria...
A dor de amor é bem vinda,
dela não posso reclamar.
Já dizia Victor Hugo
"Quero morrer só de amar"
Mas a dor que sinto, ainda,
é bem diferente o tratar...
Não sei se é desprezo,
não sei se é depressão,
ou se é melancolia
ou se é de solidão.
Mas essa dor não passa
e vem como desgraça
a rasgar meu coração.
Para acalmar essa dor,
preciso te ver, relembrar...
Quero rever-te, tão logo,
agora, sem demora, agora, já.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Em cada coisa, uma esperança (Retrato)


Abro os olhos,
um céu de mármore me toma de assalto;
embriago-me de um pássaro que desconhece seu destino
e mesmo assim ele viaja lá no alto.
Vejo sol envolvido pela bruma de um fim de tarde
e sozinho neste lago contemplo o corriqueiro.
Incessantemente um helicóptero busca uma fuga
e os automóveis seguem lentos em longas filas.
As sombras dos edifícios pacientemente pendem
reverenciando o fim do dia.
Fecho os olhos,
lembranças, e o peso de cada uma vagarosamente me afunda.
Abro os olhos,
Olha lá o passarinho!, como ele segue sem saber o caminho?
Olha lá o passarinho...