quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O nó na garganta entoa


Olhe só, repare na hora
Não existe outra senão agora
Outra vida não existe
Natural é a demora
Apressar lhe deixa triste

Guie os passos da aurora
Abra os braços para vida
Ria das próprias feridas
Gabe-se dos erros de outrora

Antes que a saudade corroa
Nesta treleada solidão
Todos teus prantos à toa
Avassalando a emoção

E tudo está pronto
Neste exato momento
Tudo em si coexiste
O bolo em si está feito
Aguardando quem o aviste

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Mal necessário


Saudades do veranico
Das ruas e suas acácias
Das delícias de seu suspiro
Saudades que não abdico
Não se tratam de falácias
Mas lembranças que admiro

Me arrependo e não desfaço
Do tamanho descompasso
Tê-los dado, largos passos
Em direção ao além

E me resta do bagaço
Um coração embaraço
Que o amarro e o enlaço
Em quem mais o convém

Tua graça que caminha
Quão tamanha em vão sobeja
Aos amantes, à noitinha
Luz do dia em ti flameja
Teus cabelos, meus desejos
Tuas mãos, seus doces beijos

Ah, poesia desgraçada
Lentas horas, madrugada
Lindos olhos que eu não via
São de minha doce amada,
Em doces sonhos, aluada
E eu com a minha poesia

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Arruando

Jamais te quero ver ferida
Jamais te quero desolada
Mais que "a terra mais garrida"
És por mim idolatrada

Não te obrigo nada em troca
Tu não tens que me dar nada
Mas, se teu peito o meu evoca

Vem! vem depressa cara amiga
Pois, a vida é uma eterna chegada
Mesmo quando a alma está partida

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Vai, eu fico


Com a sentença de minha validez
A verdade terá me abandonado
E para não parecer desolado
Aos meus lábios o sabor da tua tez

Numa das curvas da estrada
Em algum lugar bem seleto
Terei arrumado um amor revoada
No lugar do meu amor de concreto.

Direi à ela nossos mesmos versos
Farei à ela nossas mesmas juras
A darei uma filha, a que tu não via candura
E a ela o seu nome, desejos controversos

E, ao findar de minha existência
Prestes à me juntar ao éter
Chamarei o teu nome, por incelência

E virá ao meu encontro uma menina
Com o doce encanto de uma criança
Uma menina, que ao olhar em seus olhos
Encherá a menina dos meus de esperança.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Amor Vaidade


Tudo parece ter uma pressão insustentável
E sempre me perguntas se isto tem que ser assim
E sempre se esqueces que o seu não é o meu sim
E que em toda alma há um lugar habitável

Se edificas em outro ser uma masmorra
Para assim suplicar pelo seu crime
Juro à própria solidão que em mim retine
Não esperar nada de ti para que não morra

Esteja certa que todo amor dado é pago
E o desejo está somente no existir
Se o destino assim um dia lhe sorrir

Temo somente que o destino cobre caro
Procure amor nesta imensa e fria cidade
E nunca mais releve este meu amor vaidade

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Coração cor de cobre


Havia algo quase que imperceptível
Talvez um cumprimento, um aperto de mão
E se na palma da mão, naquele momento
Estivesse um, cor de cobre, coração
E dentro dele um tudo quanto há de incabível

E se ao estender tua mão à minha
Me roubara o que me havia de mais nobre
Haviam sonhos, desejos, amores a alma minha
No fundo do pequenino coração cor de cobre

Ah tristeza, ou felicidade sem tamanho
Já não sei bem precisar ao certo
Pois, quanto mais me roubas, mais eu ganho

E jamais me diga que não vales o que escrevo
É pelo amor que lhe proponho que me atrevo

Para mirar sublime estrelas é que me elevo