quarta-feira, 25 de junho de 2014

Mundos negros


Ando por mundos negros
Mundos tão negros que nada pode iluminá-los
Inundados mundos de desejo
No paradoxo de não haver candeeiros para enxergá-los.

"O mundo atrás de mim é maior que o mundo à minha frente"
Dizia um senhor, que certo dia conheci,
seu maior arrependimento era o de não ter tido olhos em suas costas,
para que com orgulho ainda pudesse contemplá-lo.

E entre mundos e olhos negros,
dediquei minha vida a pequenos velórios:
Em cada manhã enterro uma noite
Em cada noite enterro um dia.

Os anos que se vão ganham atenção especial
Juntam-se amigos e parentes, entoam-se hinos
com todas as pompas de corpo presente.

Enquanto a mente divina anda perdida
entre mundos e olhos, pequenos velórios e eterno luto.
No peito animal quase não bate o coração moribundo!

terça-feira, 24 de junho de 2014

Segunda edição


Me abriu com muita ternura
Folheou-me sem paciência
Lasseou as minhas brochuras
Leu-me com voraz violência

Sublinhou o que mais lhe aprazia
Arrancou o que mais desejava
Rabiscou tudo o que odiava
À estante não me devolvia

Com desleixo me arremessava
Pelos cantos de onde vivia
Pela cama, pela mesa, pelo chão...

Pela pressa com que caminhava
Me perdeu em uma rua baldia

Emborcado em minha solidão.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Quotidiano


Encontrei o meu passado em uma esquina
Destas escuras esquinas da cidade
Vinha todo desbotado de saudade
Do tempo dos bondes e das lamparinas;
Tempo dos meninos na calçada jogando gude
Das amarelinhas, pula-corda, peão e peteca
Ali estava meu passado, que sapeca
Corri para reencontrá-lo, chegar não pude.

Desviei o meu olhar por um instante
E vi a moça que um dia eu desejara
E que eu amo, que amarei e ainda amara
Por quem meu coração bate agonizante
Os teus olhos traziam tanta quietude
Nas tuas mãos todo o peso da idade
O coração ainda entregue à mocidade
Em todo sonho e utopia vê virtude.

E tropecei em horas passadas de alegria
Vi minha vida se esvair pela sarjeta
Do meu futuro vi somente a silhueta
Vou revivendo o meu passado em poesia
E em cada esquina escura da cidade
À musa luz que incendeia o pensamento
Reconstruí meu reino de esquecimento
Vã tentativa de encontrar felicidade.