domingo, 27 de abril de 2014

Desqualificada poesia

Eu estava preparado para tudo
Era tudo o que ela não entendia
E por não compreender eu que sofria
Que sofri tanto, que fiquei mudo.

Desde então não tenho paz nem alegria
Nem nunca tive em minha vida vil riqueza
Meu coração jaz em profunda fortaleza
Em pura fome se alimenta de agonia.

Meu ombro amigo agora é pura aleivosia
Minha saudade cedeu lugar à tristeza
Minhas canções viraram tristes fantasias.

Me resta a vida, que só em ti viu a beleza
Me resta esta desqualificada poesia
Saudando em versos a morte, a dor e a pobreza.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Para matar a Utopia

Para matar a Utopia

Proclame-se rei, ou soberana rainha
Sem muito esforço converta os seus
Seja sacerdote, mas muito ateu
Conquiste suas mentes com boa ladainha.

Crie uma lei qualquer
Risque uma linha no chão
Do seu lado quem você quiser
Do outro, só punição.

Se esta linha perder a razão
Chame alguns do lado de lá
Ofereça-lhes gratidão
Iluda-os com o lado de cá.

Posicione-os sobre a linha
Uma linha muscular
Com farda, dinheiro e farinha
Um inimigo contra quem lutar.

Inimigos do outro lado
Heróis do lado de cá
Se o de cá for o culpado
Jogue a culpa pro lado de lá.

Chame de "boa gente"
Os que vivem do lado de cá
Os de lá de "vagabundo, indigente",
Mesmo que morra de trabalhar.

Do teu lado a justiça
A polícia e a televisão
Do outro lado a imundícia
A fome, o trabalho, a prisão...

Dinheiro será uma ponte
Livre pra ir de lá pra cá
Na divisão, se há quem conte,
Noventa pra cá, dez pra lá.

O trabalho é muito sagrado
Deste lado não vamos tocar
Do outro lado, já profanado
Muito surrado de tanto gastar.

Pra resolver o dilema
Da saúde e educação
Do lado de lá é problema
Do lado de cá solução.

Deixe a hipocrisia fazer seu trabalho
E deixe o dinheiro endoidar gente sã
Não há no mundo o que pague o salário
De tratar a natureza como grande cortesã

Dada estas coordenadas
Matamos toda a utopia
Este lodo que se cria
Nestas mentes malfadadas.

Volte pro lado da linha
Ao qual você pertencer
Siga sua vida mesquinha
Viva feliz, ou tente viver.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Timere sopitus

Monstro colossal,
hórrido, infame, lamacento
Ergue-se ao fundo um pensamento
que enerva e insufla a tez mortal.

Visão nefasta a pupila inflama
que de tormentos profanos, infernais,
invadem a alma com infindos ais
até a morte apiedada clama.

O medo, esse gigante que se ergue,
tragando tudo em fúrias abssais
tirou-me tudo o que me foi entregue.

Tirou-me a vida e o amor, tirou-me mais,
deixou-me seca a esperança para que eu regue,
Nos deixou sós com a razão dos animais.