terça-feira, 13 de agosto de 2024

Eu


O "eu" aqui era para ser discreto
O eu de um "eu" muito bem velado
Um "eu" sem outro nome e sem muito afeto
Um "eu" sentença de um eu culpado.
Um "eu" que possa dizer quem sou
Dizer além do que ainda não sei
Um "eu" que é rei, um eu que errei.

Um eu que é seu mas não é você
A voz que diz - Esqueça!
E para sempre é lembrada
O "Adeus!" à imagem no espelho
O inútil e sempre necessário inútil
A foz do ser e do tempo
A verdade sempre por ser revelada
relevada revelada velada
E goteja barbaridades.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Mariana


Escondia-se de todos Mariana
Escondia, Mariana, o seu nome em um anel
Mas, quem a via, enxergava Mariana
Ouviam de Mariana as palavras que dizia
Beijavam em seus lábios, os lábios de Mariana...
Um dia voltou Antônia, do mar, lavada de lágrimas
O mar levou suas mágoas, lá se foi Mariana.

reDUÇÃO


Tropecei nos degraus
Todos os degraus que caminhei
Eram todos iguais, como disseram,
minhas pernas é que não eram.

O aprendiz de palhaço


Dizem que homens fortes buscam dobrar barras de ferro.
E homens verdadeiramente inteligentes buscam a dobra do tempo e do espaço.
De nenhum destes faço o tipo.
Fui criado por homem duro.
E minha dureza só se dobra nas dobras do teu sorriso.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O silêncio das coisas

Eram, os dois, caquinhos de fina peça
Vira e mexe se remendavam em porcelana
Mas vejam se não é, a vida, cruel cigana
Pois, nos remendos, o desgaste formou frestas.

Queimava os olhos de toda gente provinciana
Que nos mercados o tal assunto corria aos ventos
"Não olhe agora, mas veja só esses dois remendos...
Não se enquadram e ainda querem ser porcelana!"

Mas o amor enchia a porcelana e transbordava
Vazava por todos os lados e pelas frestas
E espatifou a fina peça num humor prosaico
E foi o fim da fina peça de porcelana.

Mas, os caquinhos em meio à lama que impregnava,
Não reclamavam, muito ao contrário, fizeram festa
Ainda se amavam e ali fizeram lindo mosaico
Longe dos moldes de toda gente provinciana.