O "eu" aqui era para ser discreto
O eu de um "eu" muito bem velado
Um "eu" sem outro nome e sem muito afeto
Um "eu" sentença de um eu culpado.
Dizer além do que ainda não sei
Um "eu" que é rei, um eu que errei.
Um eu que é seu mas não é você
Encontrei o meu passado em uma esquina
Eram, os dois, caquinhos de fina peça
Vira e mexe se remendavam em porcelana
Mas vejam se não é, a vida, cruel cigana
Pois, nos remendos, o desgaste formou frestas.
Queimava os olhos de toda gente provinciana
Que nos mercados o tal assunto corria aos ventos
"Não olhe agora, mas veja só esses dois remendos...
Não se enquadram e ainda querem ser porcelana!"
Mas o amor enchia a porcelana e transbordava
Vazava por todos os lados e pelas frestas
E espatifou a fina peça num humor prosaico
E foi o fim da fina peça de porcelana.
Mas, os caquinhos em meio à lama que impregnava,
Não reclamavam, muito ao contrário, fizeram festa
Ainda se amavam e ali fizeram lindo mosaico
Longe dos moldes de toda gente provinciana.