terça-feira, 4 de setembro de 2012
Combustão espontânea
Ele era um homem comum, com muito pouco de seu. Um homem que cantava aquilo que vivia e que seguia a labuta do dia a dia, como quem segue levando a cruz do nazareno.
Do que gostava era normal que qualquer um gostasse, a casa em que vivia, as coisas que desfrutava. Não havia grandes ambições, seu horizonte era apenas um ponto, se de fuga ou de final era um entre tantos outros. Um dia ouviu de boca miúda que "o mundo é de quem se atreve" trocou sua noite de sonho breve por um passeio no sereno. Sentiu-se, o homem comum, tão pequeno, não sabia o que dizer a quem se deve. "E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?" receou seu peito ao notar a solidão, e bateu na rua fria os passos acertando em contrapasso às batidas do coração.
O ar lhe regelou o peito e o sentiu, pela primeira vez, o matando pouco a pouco. Como "um sapato preto perdido do seu par: símbolo da mais absoluta viuvez" o homem comum retorna ao seu lar, e não se encontra mais com o que se contentar. Já acha tudo tão pouco, já sente tudo tão frio.
Tudo o que sente, um sufoco, tudo que tem, um vazio.
A partir deste momento o homem comum se viu como um palhaço saltimbanco e seu "coração que, entre gemidos, gira na ponta dos seus dedos brancos" sabe cantar com sentido o que os pássaros cantam por instinto. E "ficou, junto à correnteza, olhando as horas tão breves..." tornou-se esse seu mundo.
E aquele ar latente que o matava com certeza, como forma de absurdo, resolveu o homem comum respirar bem profundo.
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