Ainda me surpreendo quando me pego pensando em você.
Porque ainda me surpreendo?
São os passos do pensamento mais velozes que os meus?
São mais vorazes e inabaláveis, o coração acelera, o fôlego em descompasso.
O tempo goteja do relógio e a saudade fecha a torneira.
A solidão deixa um silêncio, um vazio, uma densa atmosfera, líqüida e intransponível, a respiração se fecha, os olhos tateiam a escuridão e as pernas se debatem no vazio.
A boca se abre o grito não sai, a dor penetra em cada poro e os órgãos falecem um a um.
Tudo ganha aos poucos uma inércia incomensurável, como no princípio, antes de fecundar-se a idéia da existência. Pois, era dois e desejava ser um, um ser, que já constituído em consciência torna a querer ser dois, teima em querer ser mais.
Acolhe os risos, os abraços, os prantos, os deslaços, acaba-se em febre, morre.
Esvai-se do pensamento, da memória e toda palavra labutar, privilégio de todo aquele que vive: ser esquecido.
E eu, que almejo minha existência numa folha de papel qualquer, nem que se diga: Viveu tolo e morreu.
Eu que desconheço o que não seja vaidade, ainda me surpreendo, quando dias como esse me fazem pensar em você.
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