As portas, todas essas portas,
Com seus trincos e suas trancas
Fechadas, nosso caminho atravanca
Abertas, quem repara? quem se importa?
Se bater, quem será que atenderia?
Saberei entender quem me atende?
E se, ao me ver, quem atender se surpreende?
Na surpresa de atender me entenderia?
E estas portas do teu corpo, da tua alma?
Estas grossas portas, frias e carrancudas
Para abrí-las em teus molhos perde a calma
Que nestas chaves desiludidas não te iludas.
E quantas portas eu cruzei para encontrá-la?
E quantas cruzo ainda em cada reencontro?
Elas se abrem, elas se fecham, há um desencontro
E a esperança ainda bate: "inda hei de amá-la".
Eis portas duras, eis portas graves, dela me privam
Portas cruéis que guardam e tracam coisa tão bela,
Teu coração, mas teus olhares nos meus motivam
A ser ladrão e roubar-te amor pelas janelas.
E digo mais mais: ainda vemos as portas meu amigo, ainda vemos as portas; ainda que grossas, ainda que frias, ainda vemos as portas como passagem. Por que, você bem sabe, há sempre quem fique no limiar do lá e do cá, e você bem sabe, que o batente está para alguns, como o sonho para o preguiçoso; você bem sabe, nós bem sabemos!
ResponderExcluirAh estas portas, todas estas portas, de madeira, ferro, aço, carne e osso, displicências...
ResponderExcluirAinda veremos todas abertas e viveremos, caro vizinho, sem trancas nem tranças.