segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Sinais de adoração


Um "como vai" de vez em quando
e "a gente se vê..." começou a tal história.
Que, em cada curva da memória,
se perde um pouco em doce balanço.
Não demorou muito e lá se foi o "bom dia",
no seu lugar um rosnado com um som de interjeição.
E a geladeira, que nem ousar se abriria, passou a ouvir:
"E a manteiga pra eu passar no pão?".
A pele que antes só dava carinho,
já vislumbra marcas de dentes, unhas e roxidão.
Não confunda com mazela e desprezo,
as marcas deste corpo são sinais de adoração.
E o "Vai, amor, vai com deus ao seu emprego"
com um beijo doce na boca e uma mão no coração.
Se transforma num amasso, derramando o café no chão,
e no fim um "Vai, cachorro, e não volta cedo não!".
Quando há amor na jogada, descaso mesmo é não ter nada,
nem mal me quer bem amada, nem mal amada bem me quer não.
E nesta noite antes dos beijos e sussurros, jurando a imensidão,
ouviu-se um "Vá dormir vadia!" e um "Vá se fuder seu cuzão!".

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